"Não é possível conhecer um
país sem conhecer e compreender sua arte - essa é a opinião da professora Ana
Mae Barbosa, da Escola e Comunicações e Artes da USP. "Um país só pode ser
considerado culturalmente desenvolvido se ele tem uma alta produção e também
uma alta compreensão dessa produção", declara. "A linguagem visual
nos domina no mundo lá fora e não há nenhuma preocupação dentro da escola em
preparar o aluno para ler essas imagens. O público quer conhecer; falta
educação para a arte".
Na opinião de Ana, os professores
do ensino fundamental e médio costumam priorizar a linguagem científica e
discursiva, mas é preciso que o aluno tenha também uma alfabetização visual
para compreender a linguagem que o rodeia em outdoors, na televisão, no
computador. "É importante entender arte, que é a representação do país por
seus próprios membros", ela ressalta. "E a configuração visual do
país é dada pelas artes plásticas".
Ana afirma que até a década de 50
a educação era baseada na expressão artística, no ato de fazer, mas que desde
então se iniciou uma mudança metodológica no ensino das escolas, que tentam
preparar melhor os alunos para ver e entender as obras de arte. "O público
em geral sabe que a arte contemporânea, a que está nos museus é o código
erudito, o código do poder. Sem dominar esse código ele se sente longe do poder
sobre a sua própria cultura".
Ana considera a produção cultural
do país "muito boa", mas acha que os artistas brasileiros estão
escondidos do público. "Eles têm espaço nas galerias, e também nas feiras
internacionais, mas só são mesmo valorizados depois de fazer sucesso no
exterior", declara. A professora considera uma "perversidade
terrível" com o público o fato de os museus possuírem grandes acervos e
mantê-los guardados por falta de espaço, quando deveriam manter as obras
expostas permanentemente.
E o que as artes plásticas estão
dizendo do país, atualmente? "Estão perguntando: onde está a nossa
salvação?", responde Ana. "Todo projeto com as classes menos
favorecidas, crianças de rua, crianças prostituídas, têm começado pela
arte", pondera, lembrando também do contato do fotógrafo Sebastião Salgado
com o Movimento dos Sem-Terra. "A arte está escondida, mas presente em
todos esses movimentos de recuperação social. Graças a iniciativas pessoais e
não-governamentais, está acontecendo".
A professora está organizando o
curso de aperfeiçoamento Aprendizagem da Arte e Cultura Contemporânea, que
ocorre de março a junho e é destinado àqueles que querem melhorar sua
apreciação pessoal das obras de arte e, principalmente, para professores que
querem ensi-nar arte para seus alunos e não têm diploma universitário ou
equivalente no currículo. O curso que Ana organiza inclui ateliês e aulas sobre
história da arte e metodologias de ensino e aprendizagem da arte. Os alunos
farão trabalhos artísticos, buscando referências na produção contemporânea e
aprenderão a ler e analisar as obras de arte com referenciais históricos.
"O fazer é muito importante para despertar a capacidade perceptiva para as
nuances da construção artística", explica a professora. "Ao mesmo
tempo, nossa história da arte pretende entrecruzar a linha do tempo com a
análise das obras e da relação entre seus elementos, para tentar construir seu
significado", conclui."
Entrevista concedida por Ana Mae
Barbosa para a Agência USP de Notícias.
FONTE:
http://www.usp.br/agen/bols/2000/rede529.htm
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